Homenagem à Catalunha - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 62 / 193

Finalmente vimos a linha baixa e chata de um parapeito à nossa frente. Podia ser nosso, ou dos fascistas, e ninguém fazia a menor ideia do caminho que tomáramos. Benjamin rastejou sobre o estômago e passou por uma planta alta e esbranquiçada até a distância de vinte metros do parapeito, e deu um grito de reconhecimento. A resposta foi outro grito de "Poum!". Levantamo-nos, abrimos caminho até ao parapeito, enfiamo-nos mais uma vez pela vala de irrigação - cataplás-gugo! - e estávamos a salvo.

Kopp nos aguardava dentro do parapeito, em companhia de alguns espanhóis. O médico e as padiolas tinham sumido. Parecia que todos os feridos tinham sido recolhidos, menos Jorge e um de nossos companheiros ingleses, chamado Hiddlestone. Muito pálido, Kopp andava de um para o outro lado, e até as dobras de gordura em sua nuca estavam pálidas, ao mesmo tempo em que ele não dava qualquer atenção às balas que zuniam sobre o parapeito baixo e passavam perto de sua cabeça. A maioria acocorava-se procurando abrigo, e Kopp murmurava:

- Jorge! Cogtio! Jorge!

E logo acrescentava, em inglês:

- Se Jorge está perdido, isso é terrível, terrível!

Jorge era seu amigo pessoal, e um dos melhores oficiais de que dispunha. De repente Kopp voltou-se para nós e pediu cinco voluntários, dois ingleses e três espanhóis, para procurarem os desaparecidos. Moyle e eu nos apresentamos, com três espanhóis.

Ao chegarmos lá fora os espanhóis murmuraram que já estava ficando perigosamente claro. Era bem verdade, e o céu se mostrava levemente azulado. Do reduto fascista vinha um bulício agitado, e evidentemente o inimigo recuperara a posição e tinha lá muito mais gente do que antes. Estávamos a sessenta ou setenta metros do parapeito, quando eles nos viram ou ouviram, pois mandaram de lá uma fuzilaria que nos fez cair de cara no chão. Um deles atirou uma bomba por cima do parapeito, em segura indicação de pânico. Estávamos deitados na grama esperando oportunidade para continuar, quando ouvimos, ou julgamos ouvir - não tenho dúvida de que foi fruto da imaginação, mas pareceu real naquele momento - as vozes fascistas muito mais próximas. Eles haviam deixado o parapeito e vinham à nossa procura.

- Corra! - gritei para Moyle, e me pus em pé.

Céus, como corri! Em ocasião anterior naquela noite eu pensara que ninguém pode correr quando chapado de lama e água dos pés à cabeça, e carregando um fuzil e cartuchos, mas naquele momento fiquei sabendo que sempre se corre, quando achamos que em nosso encalço vêm cinquenta ou cem homens armados. Mas se eu sabia correr depressa, outros podiam fazê-lo ainda mais.





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