Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: Capítulo 8

Página 71
Garrafas de vinho e anis, aquele imundo licor aragonês, passavam de mão em mão. Com as garrafas de água espanholas, feitas com pele de cabra, pode-se espirrar um jato de vinho de um lado do vagão até à boca do amigo, no outro lado, o que poupa muito trabalho. A meu lado um rapazinho de quinze anos, e de olhos negros, apresentava uma narrativa sensacional e, não duvido, completamente inverídica de suas próprias façanhas na linha de frente, para dois camponeses idosos e de cara enrugada, que ouviam boquiabertos. Eles não tardaram a abrir seus embrulhos e oferecer-nos algum vinho tinto, escuro e pegajoso. Estávamos todos imensamente felizes, mais do que eu possa descrever. Mas depois do trem passar por Sabadell e chegar a Barcelona, saltamos para encontrar uma atmosfera que não seria menos estranha e hostil se houvéssemos chegado a Paris ou Londres.

Todos aqueles que fizeram duas visitas, com espaço de meses, à cidade de Barcelona e durante a guerra, puderam observar as transformações extraordinárias ali ocorridas. O curioso é que se tais visitantes estiveram pela primeira vez em agosto, e depois em janeiro, ou então em dezembro e depois abril, como eu, era sempre idêntica sua observação: desaparecera a atmosfera revolucionária. Para qualquer um que lá estivera em agosto, quando o sangue mal secara nas ruas e a milícia se alojava nos bons hotéis, Barcelona teria parecido, em dezembro, uma cidade burguesa. Para mim, recém-vindo da Inglaterra, ela parecia-se mais a uma cidade de trabalhadores do que qualquer outra coisa que pudesse imaginar. Agora a maré refluíra, e Barcelona voltara a ser uma cidade comum, um pouco batida e escalavrada pela guerra, mas sem apresentar qualquer sinal exterior de predomínio da classe trabalhadora.

A transformação no aspeto de sua população era surpreendente. Haviam desaparecido quase por completo o uniforme miliciano e o macacão azul. Todos pareciam estar usando as mesmas roupas elegantes de verão nas quais os alfaiates espanhóis se especializam. Homens gordos e prósperos, mulheres elegantes e carros bonitos encontravam-se por toda a parte. (Dizia-se que ainda não havia automóveis particulares, mas ainda assim todos que fossem "alguém" pareciam capazes de ter um veículo para si ) Os oficiais do recém-formado Exército Popular, tipo que mal existia quando eu partira de Barcelona, apresentavam-se em números surpreendentes. O Exército Popular tinha oficiais na proporção de um por dez soldados.

<< Página Anterior

pág. 71 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 71

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173