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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 77
E recordo também meu sentimento vago de horror e espanto diante do fato de que ainda se pudesse desperdiçar dinheiro em coisas assim, num país faminto e assolado pela guerra. Mas que Deus me proíba o fingimento de qualquer superioridade pessoal. Depois de diversos meses no maior desconforto, eu estava tomado por desejo fortíssimo de ter comida e vinho decentes, coquetéis, cigarros norte-americanos e assim por diante, e reconheço ter-me espojado em todos os luxos que meu dinheiro pode comprar. No curso da primeira semana, antes de começar a luta de ruas, tive diversas preocupações que interagiram uma sobre a outra de modo bastante curioso. Em primeiro lugar, como já disse, estava ocupadíssimo tratando tanto de meu conforto quanto podia. Em segundo lugar, graças aos excessos em comida e bebida, estive com a saúde um pouco abalada por toda aquela semana. Eu me sentia mal, ia deitar por metade do dia e dali saía para ingerir outra lautíssima refeição e passar mal em seguida. Ao mesmo tempo, dava continuação a negociações secretas no sentido de adquirir um revólver. Eu queria uma arma dessas com muito empenho, pois eram de utilidade bem maior que um fuzil na guerra de trincheiras, e estavam muito difíceis de conseguir. O Governo distribuíra revólveres aos policiais e aos oficiais do Exército Popular, mas não às milícias. Era preciso comprá-los, ilegalmente, nos depósitos secretos dos anarquistas. Depois de muita trapalhada e amolação, um amigo anarquista conseguiu para mim uma pequena pistola automática de 26 mm, arma sem valor e inútil a mais de cinco metros de distância, porém melhor do que nada. E por cima de tudo isso eu fazia os primeiros preparativos para deixar a milícia do P.O.U.M. e ingressar em outra unidade, desde que, com isso, ficasse assegurada minha ida para a frente de Madridd.

Desde muito eu dizia a todos que ia deixar o P.O.U.M. Por minha preferência puramente pessoal, teria gostado de estar com os anarquistas. Quem se tornasse membro da C.N.T. podia ingressar na milícia da F. A. I., mas disseram que era mais provável mudarem-se dali para Teruel do que para Madridd. Se queria ir para a Capital, tinha de ingressar na Coluna Internacional, o que representava obter recomendação de um membro do Partido Comunista. Procurei um amigo comunista, ligado ao Auxílio Médico Espanhol, e expliquei o caso. Pareceu bastante interessado em recrutar-me, e pediu que, se fosse possível, persuadisse alguns outros ingleses da I.L.P. para que se apresentassem em minha companhia. Se minha saúde estivesse em melhor estado, eu provavelmente teria concordado com a proposta ali mesmo. A esta altura, mostra-se difícil dizer que diferença isso teria feito.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 77

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173