Faço mesmo de conta que a não entendo; e tirando o gládio pontiagudo que trazia à cinta, finjo que tento matá-la... Surpreendida, atónita com a minha coragem, Circe ajoelha de medo, suplica-me que a não mate, e profere estas palavras afectuosas que saboreei gostosamente:
- Qual o teu nome, o teu povo, a tua idade, a tua família? Que milagre foi este de beber a droga peçonhenta, e não mudar de forma? Nunca, nunca em tempo algum, os mortais resistiram a tal bruxedo!.. Serás tu então Ulisses, o homem das mil astúcias?
Já me tinham predito que um dia aqui passarias, num barco pintado de preto, de regresso de Tróia! Mas vamos, basta! Vem comigo preparar o festim das nossas núpcias. Serás meu esposo, para que assim melhor possamos confiar um no outro...
Não me demorei a responder-lhe e disse: - «Circe, para que invocas a minha ternura? Tu que neste palácio transformaste em porcos a gente que me seguia, e que, apanhando-me aqui, não pensas senão em trair-me? Não! Só consentirei em ser teu esposo, se primeiro me jurares que não maquinas qualquer cilada contra mim...
Jurou logo. Fiquei orgulhoso e contente.
Mas como aceitar festas e alegrias, enquanto os meus companheiros sofriam o destino miserando que ela lhes dera?