você tem ciúmes do nosso afeto pelos seus irmãos, pela sua irmãzinha? Tem na alma algum desgosto devido ao amor? É infeliz conosco? Fale, explique-me as razões que a levam a deixar sua família, a abandoná-la, a privá-la do seu maior encanto, a deixar sua mãe, seus irmãos e sua irmãzinha.
- Meu pai - respondeu Helena -, nem tenho ciúmes nem estou apaixonada por ninguém, nem mesmo pelo seu amigo diplomata, o senhor de Vandenesse.
A marquesa empalideceu e a filha, que a observava, calou-se.
- Não deverei mais cedo ou mais tarde ir viver sob a proteção de um homem?
- Isso é verdade.
- Sabemos porventura - prosseguiu a jovem - qual será o ser a quem ligaremos nossos destinos? Eu acredito neste homem.
- Criança - redargüiu o general, elevando a voz -, você não pensa nos sofrimentos que o futuro lhe reserva.
- Penso nos seus...
- Que vida! - disse o pai.
- Uma vida de mulher - murmurou a filha.
- E muito sábia! - exclamou a marquesa, recuperando por fim a voz.
- Senhora, as perguntas ditam-me as respostas; mas, se o deseja, falarei mais claramente.
- Diga-me tudo, ; filha, sou mãe. - Um olhar da jovem fez emudecer a marquesa, que depois de uma pausa acrescentou: - Helena, suportarei suas censuras, se você tem algumas a fazer-me, mais facilmente do que deixá-la seguir um homem de quem todos fogem com horror.
- Bem vê, senhora, que sem mim ele teria de vi ver só.
- Basta, senhora! - exclamou o general -; não temos senão uma filha. - Olhou para Moina, que continuava a dormir. - A encerrarei num convento - acrescentou, voltando-se para Helena.
- Que seja, meu pai - replicou a jovem com uma calma desesperadora -; aí morrerei. O senhor é responsável pela minha vida e por sua alma apenas perante Deus.
Um profundo silêncio sucedeu, de súbito, a essas palavras.