Os espectadores dessa cena, em que tudo era contrário aos sentimentos vulgares da vida social, não ousavam olhar-se. De repente, o marquês viu as pistolas, apoderou-se de uma, armou-a e dirigiu-se para o desconhecido. Ao ruído que a arma produziu, o homem voltou-se, lançou um olhar calmo e penetrante ao general, cujo braço, detido por uma invencível fraqueza, caiu pesadamente, rolando a pistola pelo tapete...
- Minha filha - disse então o pai, abatido por aquela luta medonha -, é livre. Beije sua mãe, se ela consentir. Quanto a mim, não quero tornar a vê-la nem ouvi-la... o que acontecer, há de haver desgraça nesta casa.
- E se sua filha for feliz? - perguntou o assas sino, olhando fixamente para o militar.
Se for feliz com o senhor - retrucou o pai com visível esforço -, não lastimarei.
Helena ajoelhou-se timidamente diante do pai e disse-lhe com carinho: - Oh, meu pai! Eu o amo e venero, quer me prodigalize os tesouros da sua bondade, quer os rigores da desgraça... Porém, suplico- lhe que suas derradeiras palavras não sejam palavras de cólera.
O general não ousou contemplar a filha. Nesse momento, o desconhecido acercou-se e, olhando para Helena com um sorriso em que havia alguma coisa de infernal e de celeste, disse:
- Anjo de misericórdia, a quem um assassino não assusta, venha, visto que persiste em confiar-me o seu destino.
É inconcebível! - exclamou o marquês.
A marquesa lançou à filha um olhar extraordinário e abriu-lhe os braços. Helena precipitou-se para ela chorando.
- Adeus, adeus, minha mãe!
Helena fez resolutamente um sinal ao desconhecido, que estremeceu. Depois de ter beijado a mão do pai e abraçado precipitadamente, mas sem entusiasmo, Moina e o pequeno Abel, desapareceu com o assassino.
- Para onde vão eles? - interrogou o general, ouvindo s passos dos fugitivos.