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Capítulo 6: A velhice de uma mãe culpada

Página 196
mãe; as mais violentas expressões de alegria e de dor acabaram por alterar-lhe, torturar-lhe o rosto, formando aí mil rugas, tendo todas uma linguagem; e uma fronte de mulher torna-se, então, sublime pelo horror, bela pela melancolia, ou magnífica pela serenidade; se se permite desenvolver esta estranha metáfora, o lago seco deixa então ver todos os traços das torrentes que o produziram; uma fronte de mulher velha já então não pertence nem ao mundo, que, frívolo, se assusta de ver a destruição de todas as idéias de elegância a que está habituado, nem aos artistas vulgares, que nada descobrem por aí; mas, sim, aos verdadeiros poetas, àqueles que possuem o sentimento de uma beleza independente de todas as convenções sobre as quais repousam tantos preconceitos sobre a arte e a formosura.

Ainda que a senhora d’Aiglemont usasse um chapéu moderno, era fácil ver que seus cabelos haviam embranquecido, devido a comoções cruéis; mas a maneira como os usava, separados ao meio, traía seu bom-gosto, revelava seus graciosos hábitos de mulher elegante e desenhava perfeitamente sua fronte envelhecida, enrugada, na qual se encontravam ainda assim vestígios do seu antigo brilho. A forma do rosto, a regularidade das feições davam uma idéia, fraca na verdade, da beleza de que fora, por certo, orgulhosa; porém esses indícios acusavam ainda mais as dores que deviam ter sido agudíssimas, para encovar-lhe o rosto, dessecar as têmporas, reentrar as faces, macerar as pálpebras e desguarnecer de cílios o olhar grácil. Tudo era silencioso naquela mulher: o andar e os movimentos tinham esse sossego grave e recolhido que imprime o respeito. Sua modéstia, transmudada em timidez, parecia ser o resultado do hábito, que tomara havia alguns anos, de se eclipsar na presença da filha; suas palavras eram raras, suaves, como as de todas as pessoas habituadas a refletir, a concentrar-se, a viver consigo mesmas.

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pág. 196 (Capítulo 6)

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Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 196

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190