Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: Sofrimentos desconhecidos

Página 79
Se uma mulher nova perde o filhinho recém-nascido, o amor conjugal depressa lhe dará um sucessor. Essa aflição é também fugaz. Enfim, esses pesares e muitos outros semelhantes são de algum modo golpes, feridas; mas nenhum afeta a vitalidade na sua essência, e é mister que se sucedam de um modo estranho para matar o sentimento que nos leva a procurar a felicidade. A grande, a verdadeira dor seria, pois, um mal assaz mortífero para abranger o passado, o presente e o futuro, não deixar parte alguma da vida na sua integridade, desnaturar para todo o sempre o pensamento, inscrever-se inalteravelmente nos lábios e na fronte, destruir a alegria, pondo n’alma um elemento de aversão por tudo o que se relaciona com o mundo. E ainda, para ser imenso, para assim pesar na alma e no corpo, esse mal deveria chegar num momento da vida em que são novas todas as forças da alma e do corpo e fulminar um coração deveras vivo. O mal provoca então uma grande chaga; grande é o sofrimento, nenhum ser pode destruí-lo, sem sofrer alguma poética mudança: ou toma o caminho do céu, ou, se permanece na terra, volta ao mundo para lhe mentir, para aí representar um papel; conhece desde então os bastidores a que nos retiramos para calcular, chorar, gracejar. Depois dessa crise solene, já não há mistérios na vida social, que, desde então, é irrevogavelmente julgada. Nas jovens da idade da marquesa, essa primeira dor é a mais cruciante de todas, e é sempre causada pelo mesmo fato. A mulher, principalmente a mulher nova, tão grande pela alma como pela beleza, nunca deixa de se consagrar à vida para a qual a natureza, o sentimento e a sociedade impelem-na com violência.

Se essa vida lhe falta e ela fica na terra, experimenta os sofrimentos mais cruéis, pela razão que torna o primeiro amor o mais belo de todos os sentimentos.

<< Página Anterior

pág. 79 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 79

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190