O primeiro dia de Buck na praia de Dyea foi um verdadeiro pesadelo. Cada hora que passava era preenchida pelo sobressalto e pela surpresa constantes. Fora bruscamente sacudido do seio da civilização e lançado no coração das coisas primitivas. Para trás ficara a vida ociosa e radiante de sol, vazia de tudo o que não fosse mandriar e encher-se de aborrecimento. Aqui não havia paz ou descanso, nem um momento de segurança sequer. Tudo era confusão e acção e cada momento um risco que se corria. Era imperiosa a necessidade de permanecer constantemente alerta, pois estes cães e estes homens não eram homens e cães da cidade. Eram selvagens, todos eles, não conhecendo outra lei que não fosse a lei do cacete e das presas.
Nunca vira cães lutar como estas ferozes criaturas o faziam, e a sua primeira experiência proporcionou-lhe uma lição que não mais esqueceria. É certo que a viveu como simples espectador, pois de contrário não teria sobrevivido para dela tirar proveito. A vitima foi Curly Estavam acampados junto do depósito da madeira, quando Curly, com o seu feitio amistoso, se foi meter com um cão-lobo que, embora do tamanho de um lobo feito, não era nem metade dela. Não houve qualquer advertência, apenas um salto relâmpago para a frente, um estalido metálico de dentes, um salto de retrocesso igualmente rápido, e o focinho de Curly ficou rasgado de alto a baixo.
Era o modo de lutar dos lobos: atacar e, de um pulo, pôr-se a salvo. Mas houve mais do que isso. Trinta ou quarenta cães-lobos acorreram ao local e rodearam os contendores num círculo atento e silencioso. Buck não compreendia o significado daquela atenção silenciosa, nem tão pouco o jeito ávido com que lambiam as mandíbulas. Curly arrojou-se na direcção do seu antagonista, que de novo a atacou e com um pulo se furtou para o lado. Com o peito aparou a segunda arremetida da cadela, de um modo tal que a deitou por terra. Não se levantou mais. Era este o momento esperado pelos cães circundantes. Rosnando e latindo, fecharam o circulo sobre ela, que, sepultada sob aquela massa eriçada de corpos, gritava em agonia.