Deus chamava-se Deus, tal como ele se chamava Stephen. Em francês dizia-se
Dieu e esse era também o nome de Deus; e, quando alguém rezava e dizia
Dieu, Deus sabia imediatamente que era um francês que estava a rezar. Mas, embora houvesse nomes diferentes para Deus em todas as diferentes línguas do mundo, e Deus compreendesse o que todas as pessoas que oravam diziam, nas suas diferentes línguas, Deus continuava a ser o mesmo Deus e o verdadeiro nome de Deus era Deus.
Sentiu-se muito cansado de pensar tanto. Parecia-lhe que tinha a cabeça muito grande. Voltou a página da guarda e olhou, fatigado, para a Terra redonda e verde no meio das nuvens castanho-avermelhadas. Perguntou a si mesmo se se deveria preferir o verde ou o castanho, porque a Dante tinha, um dia, arrancado com a tesoura o veludo verde das costas da escova que era do Parnell e tinha-lhe dito que o Parnell era um homem mau. Gostaria de saber se lá em casa estariam a falar desse assunto. Chamava-se política. Havia dois partidos: a Dante estava dum lado e o seu pai e Mr. Casey estavam do outro lado, mas a mãe e o tio Charles não tomavam partido. Todos os dias, vinha qualquer coisa no jornal acerca disso.
Afligia-o não perceber bem o que era a política e não saber onde terminava o universo. Sentia-se pequeno e fraco. Quando seria como os rapazes que estudavam Poesia e Retórica? Tinham vozes fortes e grandes botas e estudavam Trigonometria. Ainda estava muito longe disso. Primeiro, viriam as férias e, depois, o segundo período " depois, férias de novo e, depois, mais um período e, depois, novamente as férias. Era como um comboio a entrar e a sair dos túneis c como o ruído dos rapazes que comiam no refeitório, quando ele capava e destapava os ouvidos.