Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 10 / 273

Tal e qual como as duas escovas no toucador da Dante, a escova com as costas de veludo verde para o Parnell e a escova com as costas de veludo castanho-avermelhado para o Michael Davitt. Mas não tinha sido ele a dizer ao Fleming para usar aquelas cores. Fleming tinha-as escolhido sozinho.

Abriu o livro de geografia para estudar a lição; mas não conseguia decorar os nomes das terras da América. Contudo, eram todos lugares diferentes que tinham nomes diferentes. Estavam todos em diferentes países e esses países ficavam em continentes e os continentes ficavam no mundo e o mundo ficava no universo.

Abriu o livro de geografia nas páginas das guardas e leu o que tinha escrito numa delas: o seu nome e o local onde se encontrava.

Stephen Dedalus
Aula de Rudimentos
Colégio de Clongowes Wood Sallins
Condado de Kildare Irlanda
Europa
Mundo
Universo

Isto estava escrito com a sua letra; e Fleming, certa noite, por brincadeira, havia escrito na página oposta:

Stephen Dedalus é o meu nome,
A Irlanda é a minha nação.
Clongowes é o sítio onde vivo,
O céu é o lugar do meu coração.

Leu os versos do fim para o princípio, mas assim deixavam de ser poesia. Depois, leu a página do fim para o princípio, até chegar ao seu nome. Ali estava ele; e voltou a ler até ao final. Que haveria depois do universo? Nada. Mas haveria alguma coisa em volta do universo, a mostrar onde ele acabava antes que começasse o nada? Não podia ser um muro; mas poderia haver uma linha muito, muito fina, em redor de tudo. Era uma coisa imensa, pensar em tudo e em todos os lugares. Só Deus poderia fazê-lo. Tentou pensar em como seria grande esse pensamento; mas só conseguia pensar em Deus.





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