«A um grande santo (um dos nossos padres, julgo eu) foi um dia concedida uma visão do Inferno. Teve a sensação de estar no meio de um amplo salão, escuro e silencioso, com excepção do tiquetaque de um grande relógio. O tiquetaque prosseguia incessantemente; e pareceu àquele santo que o som do tiquetaque era a incessante repetição das palavras - sempre, nunca; sempre, nunca. Sempre estar no Inferno, nunca estar no Céu; sempre estar privado da presença de Deus, nunca gozar a Sua beatífica visão; sempre ser devorado pelas chamas, roído pelos vermes, espetado com forquilhas ardentes, nunca se ver livre dessas penas; sempre sentir a consciência fustigada, a recordação enfurecida, a mente cheia de escuridão e desespero, nunca poder escapar-lhes; sempre amaldiçoar e insultar os vis demónios que perversamente exultam com a desgraça das suas vítimas, nunca contemplar o brilho resplandecente dos espíritos abençoados; sempre suplicar, do abismo de fogo, que Deus lhes conceda um instante, um único instante, de tréguas da sua horrível agonia, nunca receber, nem por um instante, o perdão de Deus; sempre sofrer, nunca gozar; sempre estar condenado, nunca ser salvo; sempre, nunca; sempre, nunca.