Parecia-lhe que a sua vida se aproximara da eternidade; cada pensamento, cada palavra, cada acto, cada instante de consciência poderiam reverberar radiosamente no Céu; e, por vezes, a sua sensação dessa imediata repercussão era tão forte que parecia sentir a sua alma em devoção premir, como se tivesse dedos, o teclado de uma grande caixa registadora, e ver a quantia da sua aquisição partir imediatamente para o céu, não na forma de um número, mas de uma frágil coluna de incenso ou de uma esguia flor.
Os rosários que rezava constantemente - porque trazia o terço no bolso das calças, para ir passando as contas enquanto caminhava pelas ruas - transformaram-se em grinaldas de flores de uma textura tão ténue e tão irreal que lhe pareciam tão desprovidas de cor e de odor quanto de nome. Oferecia cada uma das suas três grinaldas diárias para que a sua alma se fortalecesse em cada uma das três virtudes teológicas, em fé no Pai que o havia criado, em esperança no Filho que o havia redimido e em amor pelo Espírito Santo que o havia santificado; e esta oferta três vezes tripla era oferecida às Três Pessoas através de Maria, em nome dos seus sublimes, dolorosos e gloriosos mistérios.
Em cada um dos sete dias da semana, rezava ainda para que um dos sete dons do Espírito Santo descesse sobre a sua alma e dela arrancasse, dia após dia, os sete pecados mortais que a haviam manchado no passado, e rezava por cada dádiva no dia destinado, confiando em que ela desceria sobre ele, embora lhe parecesse estranho, por vezes, que a prudência, o entendimento e o conhecimento fossem tão distintos na sua natureza que devessem ser requeridos separadamente. Todavia, acreditava que, numa fase posterior do seu progresso espiritual, essa dificuldade haveria de desaparecer, quando a sua alma indigna se tivesse elevado da sua fraqueza e tivesse sido iluminada pela Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.