Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 166 / 273

Mas a frase saída dos lábios do padre era intencional, porque ele sabia que um padre não falaria de um tal tema com ligeireza. A frase tinha sido frivolamente pronunciada com uma intenção, e ele sabia que os olhos na sombra esquadrinhavam o seu rosto. Tinha posto francamente de lado tudo o que ouvira ou lera sobre a astúcia dos jesuítas, por não provir da sua própria experiência. Os seus professores, mesmo quando não gostava deles, sempre lhe tinham parecido padres inteligentes e sérios, prefeitos atléticos e decididos. Imaginava-os como pessoas que se lavavam entusiasticamente com água fria e usavam roupas limpas e frescas. Durante todos aqueles anos em que vivera entre eles, em Clongowes e em Belvedere, recebera apenas dois castigos e, embora esses lhe tivessem sido aplicados injustamente, sabia que escapara muitas vezes às punições merecidas. Durante todos aqueles anos, nunca tinha escutado de qualquer dos seus mestres uma palavra frívola: tinham sido eles a ensinar-lhe a doutrina cristã e a exortá-lo a viver uma boa vida e, quando caíra em pecado mortal, tinham sido eles a reconduzi-lo à graça. A sua presença tinha-o feito perder a confiança em si próprio quando era uma criança em Clongowes e tinha-o feito igualmente perder a autoconfiança enquanto mantivera a sua equívoca posição em Belvedere. Uma constante sensação desse facto permanecera dentro dele durante o último ano da sua vida escolar. Nunca tinha desobedecido nem permitido que os companheiros turbulentos o afastassem dos seus hábitos de silenciosa obediência; e, mesmo quando duvidava de alguma afirmação de um professor, nunca se arrogara o direito de duvidar abertamente. Ultimamente, algumas das suas opiniões começavam a soar um pouco infantis aos seus ouvidos, e isso tinha-o feito sentir tristeza e pena, como se estivesse a abandonar lentamente um mundo a que se acostumara e a ouvir a sua linguagem pela última vez.





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