Um dia, quando alguns rapazes estavam reunidos em volta de um padre, sob o alpendre perto da capela, tinha ouvido o padre dizer:
- Eu creio que Lorde Macauley foi um homem que, provavelmente, jamais cometeu um pecado mortal na sua vida, isto é, um pecado mortal deliberado.
Alguns dos rapazes perguntaram então ao padre se Victor Hugo não era o maior escritor francês. O padre tinha respondido que Victor Hugo nunca mais voltara a escrever, desde que se voltara contra a Igreja, tão bem como quando era católico.
- Mas há muitos eminentes críticos franceses - disse o padre
- que pensam que mesmo Victor Hugo, por muito grande que
fosse, nunca alcançou um estilo tão puro como o de Louis Veuillot.
A minúscula chama que a alusão do padre tinha acendido nas faces de Stephen apagara-se de novo e os seus olhos continuavam calmamente fixados no céu descolorido. Mas havia uma dúvida inquieta a movimentar-se na sua mente. Passaram rapidamente diante dele recordações escondidas: reconheceu os cenários e as pessoas, mas teve consciência de que não compreendera algumas circunstâncias vitais. Viu-se a passear pelos pátios, a observar as manifestações desportivas em Clongowes e a comer rebuçados do seu boné de críquete. Viu alguns jesuítas a passear em volta da pista de ciclismo, na companhia de senhoras. Os ecos de certas expressões usadas em Clongowes soaram em escaninhos recônditos da sua mente.
Os seus ouvidos escutavam esses ecos distantes, no meio do silêncio do parlatório, quando tomou consciência de que o padre estava a dirigir-se-lhe numa voz diferente.
- Mandei-o chamar hoje, Stephen, porque queria falar consigo de um assunto muito importante. - Queira dizer.
- Alguma vez sentiu que tinha vocação?
Os lábios de Stephen entreabriram-se para dizer que sim, mas depois retiveram subitamente a palavra.
