Sim! Sim! Sim! Ele havia de criar, orgulhosamente, com a liberdade e a força da sua alma, como o grande artífice cujo nome usava, algo vivo, novo, alado e belo, impalpável e imperecível.
Abandonou nervosamente o rochedo onde se encontrava porque já não conseguia apagar o ardor do seu sangue. Sentia as faces a arder e, na garganta, pulsava uma canção. Os seus pés sentiam desejo de vaguear e ardiam por partir para os confins da terra. Em frente! Em frente!, parecia gritar o seu coração. A sombra iria tornar-se mais profunda sobre o mar, a noite cairia sobre as planícies, a alvorada resplendeceria diante do viajante, mostrando-lhe estranhos campos e colinas e rostos. Onde?
Olhou para norte, na direcção de Howth. O mar descera abaixo da linha de algas do lado mais baixo do molhe, e a maré já corria veloz ao longo da praia. Já um longo banco de areia oval se estendia, quente e seco, entre as pequenas ondas. Aqui e além brilhavam quentes ilhas de areia no meio das correntes pouco profundas e, em volta das ilhotas e do longo banco de areia, entre as correntes baixas da praia, havia figuras vestidas de cores claras, a patinhar e a mergulhar.
Em poucos momentos, estava descalço, com as meias dobradas dentro dos bolsos e os sapatos de lona pendurados aos ombros pelos atacadores atados e, arrancando dos detritos em volta dos rochedos um pau aguçado, roído pelo sal, desceu a rampa do molhe.
Havia um longo riacho na praia e, enquanto patinhava, seguindo o seu curso, reparava no número infindável de algas à deriva. Cor de esmeralda, pretas, avermelhadas e cor de azeitona, deslocavam-se por baixo da corrente, ondulando e girando. A água do riacho era escura e interminável e reflectia as nuvens que adejavam no alto. As nuvens pairavam silenciosamente por cima dele e o ar quente e cinzento estava parado e uma nova vida rebelde cantava nas suas veias.