O seu coração estremeceu; a sua respiração acelerou-se e um sopro audaz perpassou pelos seus membros, como se já estivesse a voar em direcção ao sol. O seu coração fremiu num êxtase de medo e a sua alma levantou voo. A sua alma pairava nos ares por lá do mundo e sabia que o seu corpo estava purificado por um sopro e liberto da incerteza, radioso e diluído no elemento do espírito. Um êxtase de voo deu brilho aos seus olhos e agitou a sua respiração e tornou trémulos, audazes e radiosos os seus membros arrebatados pelo vento.
- Um! Dois!... Cuidado!
- Bolas, estou a afogar-me!
- Um! Dois! Três e lá vai!
- Vamos a outro! Vamos a outro!
- Um!... Zás!
- Stephaneforos! (A palavra grega Stephanoforos significa aquele que transporta uma coroa)
A garganta ardia-lhe no desejo de gritar, de lançar aos ventos o guincho do falcão ou da águia, o grito penetrante da sua libertação. Era o chamamento da sua alma à vida, não a voz monótona e grosseira dum mundo de deveres e de desespero, não a voz desumana que o chamara ao pálido serviço do altar. Um instante de voo selvagem tinha-o libertado e o grito de triunfo que os seus lábios retinham fendeu-lhe o cérebro.
- Stephanoforos!
Que eram agora, senão mortalhas arrancadas ao corpo da morte - o medo que o acompanhara de noite e de dia, a incerteza que o tinha cercado, a vergonha que o aviltara interior e exteriormente -, mortalhas, os linhos da sepultura?
A sua alma ressuscitara do túmulo da adolescência, despindo o seu sudário.