As árvores carregadas de chuva da avenida trouxeram-lhe à memória, como sempre, as raparigas e as mulheres das peças de Gerhart Hauptmann; e a recordação dos seus pálidos desgostos e a fragrância dos ramos molhados fundiram-se numa sensação de tranquila alegria. O seu passeio matinal pela cidade tinha principiado, e sabia antecipadamente que, ao passar pelos pântanos de Fairview, pensaria na prosa de Newman, claustral, atravessada por veios prateados; que, ao percorrer a estrada de North Strand, olhando distraidamente as montras das lojas de comidas, recordaria o humor sombrio e o sorriso de Guido Cavalcanti; que, ao passar pelas oficinas de cantaria de Baird, na Praça Talbot, o espírito de Ibsen sopraria sobre ele como um vento forte, um espírito de juvenil beleza transviada; e, ao passar por uma suja loja de aprestos marítimos, para lá do Liffey, repetiria a canção de Ben Johnson que começa assim:
Não estava mais cansado no sítio onde jazia.
A sua mente, quando fatigada da sua busca da essência da beleza entre as palavras espectrais de Aristóteles ou Aquino, voltava-se, para seu prazer, para as elegantes canções isabelinas. A sua mente, na roupagem de um monge céptico, mantinha-se, por vezes, na sombra, sob as janelas dessa época, a escutar a música grave e trocista dos tocadores de alaúde ou as risadas francas das mulheres de corpete, até que um riso demasiado grosseiro, uma frase, deturpada pelo tempo, de alcovitice ou falsa honra, ferisse a sua dignidade de frade e o obrigasse a abandonar o seu esconderijo.
O tema erudito em que todos julgavam que ele passava os dias a meditar, de tal modo que o afastava da companhia dos jovens, era apenas um conjunto de breves frases da poética e da psicologia de Aristóteles e uma Sinopsis Philosophiae Scholasticae ad mentem divi Tbomae.