Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 25 / 273

Ámen.

Todos se benzeram e Mr. Dedalus, com um suspiro de prazer, levantou a pesada tampa de metal, perlada em volta de gotas cintilantes.

Stephen olhou para o gordo peru que já vira sobre a mesa da cozinha, recheado e enfiado num espeto. Sabia que o pai tinha pago por ele um guinéu na casa Dunn da Rua D'Olier, e que o vendedor tinha picado diversas vezes o peito da ave, para mostrar como era boa; e recordava-se da voz do homem ao declarar:

- Leve este, meu senhor. É de primeira categoria.

Porque seria que Mr. Barrett, de Conglowes, chamava perua à sua palmatória? Mas Conglowes estava muito longe dali; e o odor quente e forte do peru com presunto e aipo elevava-se dos pratos e das travessas e na grande lareira o fogo ardia, alto e rubro, e a hera verde e o azevinho vermelho faziam-no sentir-se muito feliz, e, quando o jantar terminasse, trariam o grande pudim de ameixas, enfeitado com amêndoas descascadas e pezinhos de azevinho, com um fogo azulado a arder à sua volta e uma bandeirinha verde espetada em cima.

Era o seu primeiro jantar de Natal e lembrou-se dos seus irmãos e irmãs mais pequenos que esperavam no quarto das crianças, como ele esperara tantas vezes, pela chegada do pudim. O colarinho baixo e a jaqueta ao estilo de Eton faziam que se sentisse esquisito e mais velho; e, nessa manhã, quando a mãe o trouxera para a saleta, vestido para a missa, o pai tinha chorado. Porque se lembrara do seu próprio pai. E o tio Charles tinha dito o mesmo.

Mr. Dedalus tapou a travessa e começou a comer, com grande apetite. Depois, disse:

- Pobre do velho Chrisry, anda todo torcido, de tanta velha cana.

- Simon - disse Mrs. Dedalus -, não deste molho a Mrs. Riordan.

Mr. Dedalus pegou na molheira.





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