- Os bispos da Irlanda não nos traíram, no tempo da União, quando o bispo Lanigan fez um discurso de submissão à marquesa da Cornualha? Os bispos e os padres não venderam as aspirações do seu país em 1829, em troca da emancipação católica? Não denunciaram o movimento dos Fenianos! do seu púlpito e no confessionário? E não profanaram as cinzas de Terence Bellew MacManus?
O seu rosto avermelhou-se de fúria e Stephen sentiu as próprias faces corarem, excitado pelas suas palavras. Mr. Dedalus soltou uma gargalhada de rude desprezo.
- Oh, meu Deus, quase me esquecia do velho Paul Cullen!
Mais uma menina dos olhos de Deus!
Dante inclinou-se sobre a mesa e gritou a Mr. Casey:
- Tinham razão! Tinham razão! Eles sempre tiveram razão!
Deus e a moralidade e a religião estão sempre em primeiro lugar.
Mrs. Dedalus, notando a sua excitação, disse-lhe:
- Mrs. Riordan, não se dê ao trabalho de lhes responder.
- Deus e a religião em primeiro lugar! - exclamou Dante. - Deus e a religião antes do mundo.
Mr. Casey ergueu o punho fechado e deixou-o cair sobre a mesa, com estrondo.
- Muito bem, então - gritou com voz rouca. - Se é assim, não queremos Deus na Irlanda!
- John! John! - exclamou Mr. Dedalus, agarrando o seu convidado pela manga da sobrecasaca.
Dante fitava o outro lado da mesa, com as bochechas a tremer.
Mr. Casey levantou-se com esforço da cadeira e inclinou-se sobre a mesa, na direcção dela, agitando o ar diante dos olhos com uma das mãos, como se afastasse uma teia de aranha.
- A Irlanda não precisa de Deus! - exclamou ele. - Há excesso de Deus na Irlanda. Fora com Deus!
- Blasfemo! Demónio! - exclamou Dante, pondo-se de pé e quase lhe cuspindo na cara.
O tio Charles e Mr.