Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 73 / 273

Tallon?

Depois, inclinando-se para observar melhor o rosto pintado e sorridente por baixo da aba do chapéu, exclamou:

- Não! Valha-me Deus, afinal parece-me que é o pequeno Bertie Tallon!

Stephen, no seu posto junto da janela ouviu a senhora idosa e o padre rirem-se juntos e escutou os murmúrios de admiração dos rapazes, atrás de si, quando passavam para ir ver o rapazinho que iria dançar sozinho a dança do chapéu de palha. Escapou-lhe um movimento de impaciência. Deixou cair a persiana e, descendo do banco sobre o qual estivera, saiu da capela.

Passou junto do edifício da escola e deteve-se sob o telheiro ao lado do jardim. Do teatro, em frente, vinha o ruído abafado da audiência e súbitos acordes animados da banda dos soldados. A luz projectava-se para cima, saindo da clarabóia e fazendo que o teatro parecesse uma barca festiva, ancorada entre os vultos das casas, amarrada ao cais pelos seus frágeis cabos de lanternas. Subitamente, irrompeu da barca uma explosão de música, o prelúdio de uma valsa; e, quando a porta lateral se fechou de novo, ainda se podia ouvir o ritmo abafado da música. O sentimento dos acordes iniciais, o seu movimento lânguido e flexível fizeram-no evocar a emoção incomunicável que tinha sido a causa de toda a sua inquietação daquele dia e do seu movimento impaciente, pouco antes. A inquietação emanava dele como uma onda sonora; e, com a maré da música fluente, a barca começou a deslocar-se, arrastando atrás de si os cabos das lanternas. Depois, um ruído semelhante a artilharia em miniatura interrompeu o movimento. Eram as palmas que saudavam a entrada no palco da equipa dos halteres.

Na extremidade oposta do alpendre, perto da rua, um pequeno clarão de luz rosada brilhou na escuridão e Stephen avançou para ele, consciente de um vago odor aromático.





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