Por razões diversas não seria adequado incomodar o leitor com os pormenores das nossas peripécias por aqueles mares. Bastará dizer que, na viagem para as Índias Orientais, uma violenta tempestade arrastou-nos para noroeste da Tasmânia. Segundo os nossos cálculos, encontrávamo-nos a trinta graus e dois minutos de latitude sul. Doze membros da tripulação morreram por excesso de trabalho e por ingerir alimentos em más condições, enquanto o resto dos homens se encontrava em estado de grande debilidade. No dia 5 de Novembro que, naquelas latitudes, marcava o início do Verão, estando o dia enevoado, a tripulação avistou um recife a meio cabo de distância. O vento era tão forte que nos empurrou directamente para ele, ficando o barco despedaçado. Entre seis tripulantes arreámos um bote à água e efectuámos uma manobra para nos afastarmos do barco e do recife. Segundo os meus cálculos, remámos umas três léguas até mais não podermos, extenuados que estávamos pelo esforço. Ficámos, pois, ao sabor das ondas. Uma meia hora mais tarde uma nortada violenta virou o nosso bote. Ignoro a sorte dos meus companheiros, dos que se agarraram ao recife e dos que ficaram a bordo. Deduzo que todos pereceram. Quanto a mim nadei, arrastado pelo vento e pela maré, ao sabor do destino. Com frequência sondava com as pernas mas não conseguia encontrar o fundo. Quase exausto e sem forças para continuar a lutar, encontrei pé, ao mesmo tempo que a tormenta amainava consideravelmente. A encosta do fundo era tão suave que caminhei quase meia milha até que cheguei à margem; deviam ser, pelos meus cálculos, umas oito da tarde. Avancei, pois, quase meia milha, sem descobrir qualquer vestígio de casas ou pessoas, ou seria a minha fraqueza que me impedia de as ver. Sentia-me muito cansado, o que, com o calor e a quase meia pinta de conhaque que bebera ao abandonar o barco, me produziu um torpor irresistível. Deitei-me na erva, baixa e suave, e adormeci profundamente.
