As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 120 / 339

CAPÍTULO IV

Descrição do país. Proposta para emenda dos mapas modernos. Informação sobre a capital e o palácio real Modo de viajar do autor. Descrição do templo principal.

Proponho-me agora oferecer ao leitor uma breve descrição das regiões por onde viajei, que nunca ultrapassaram a distância de duas mil milhas de Lorbrulgrud, a capital, uma vez que a rainha, a quem sempre acompanhava, nunca as excedia quando viajava com o rei, ficando pelo caminho, aguardando que Sua Majestade voltasse de inspeccionar as fronteiras. A extensão total dos domínios deste príncipe era de umas seis mil milhas de comprimento e de três a cinco mil de largura, pelo que não posso deixar de concluir que os nossos geógrafos europeus estão muito equivocados ao supor que apenas existe mar entre o Japão e a Califórnia; sempre acreditei que deve existir um equilíbrio de terras para servir de contrapeso ao grande continente da Tartária, pelo que deveriam corrigir as suas cartas e mapas, acrescentando essa vasta zona de terra a noroeste da América; prontifico-rne a prestar-lhes a minha colaboração.

O reino é constituído por uma península coroada a nordeste por uma cadeia montanhosa de trinta milhas de altura e completamente intransponível por causa dos vulcões nos seus cumes. Nem os mais eruditos sabem que classe de mortais habita além, nessas montanhas, ou mesmo sequer que elas sejam habitadas. Pelos outros três lados é envolvido pelo oceano. Não existe um único porto de mar em todo o reino e as zonas costeiras nas desembocaduras dos rios estão eriçadas de rochas pontiagudas e o mar costuma estar tão encrespado que nem sequer é possível aventurar-se alguém nele com o mais pequeno dos botes, pelo que essa gente está completamente excluída de qualquer contacto com o mundo exterior.





Os capítulos deste livro