Esse incidente fez com que Glumdalclitch, a título definitivo, nunca me perdesse de vista nos passeios. Já desde há algum tempo receava essa decisão e, por isso, nunca me referira a algumas infelizes aventuras que me tinham acontecido quando estava só. Certa vez, um gatinho que vadiava no jardim saltou sobre mim e, se não tivesse desembainhado prontamente o sabre e escondido sob uma espessa sebe, teria ficado entre as suas garras. De outra vez, ao subir ao alto de um montículo feito por uma toupeira para abrir a sua toca, afundei-me até ao pescoço na cavidade. Para justificar os estragos no vestuário tive de inventar uma mentira qualquer que não vale a pena mencionar aqui. Numa outra ocasião ainda, fracturei a tíbia direita ao tropeçar na casca de um caracol, quando passeava sozinho a pensar na pobre Inglaterra.
Não posso dizer se sentia mais aflição do que prazer, durante estes passeios solitários, ao verificar que os passarinhos não pareciam ter medo de mim, pois brincavam ao meu redor a menos de uma jarda de distância, à caça de minhocas e de outros alimentos, com tanta indiferença e segurança como se não houvesse presença humana próxima. Lembro-me que um pardal teve o desplante de arrebatar-me da mão, com o seu bico, um pedaço de pastel que Glumdalditch me acabara de dar para meu pequeno-almoço. Se procurava afugentar algum destes pássaros, fitava-me com ousadia e lançava bicadas aos meus dedos, pelo que não ousava pôr-me ao seu alcance, enquanto o pássaro voltava despreocupado à sua busca de minhocas ou de caracóis. Mas um dia agarrei num pau grosso e dei um golpe tão forte e certeiro num pintassilgo que o derrubei; agarrei-o pelo pescoço m ambas as mãos e levei-o triunfalmente à minha ama.
