As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 136 / 339

Respondi a Sua Majestade que na Europa não tínhamos macacos, à excepção de alguns exemplares importados, a título de curiosidade, de outros países. Além disso, eram tão pequenos que poderia ter enfrentado meia-dúzia deles em caso de ataque. Quanto ao que respeitava o monstro que me capturara havia pouco (uma vez que tinha, com efeito, o tamanho de um elefante), se o medo não me tivesse feito esquecer o uso do sabre enquanto falava adoptei um comportamento arrogante e apoiei a mão no cabo talvez lhe tivesse podido dar uma tal estocada, quando metera a pata no meu cubículo, que a teria retirado com maior rapidez do que quando a introduzira. Pronunciei estas palavras com o tom firme de alguém que não admite que o seu valor seja posto em causa. No entanto, o único resultado que obtive do meu discurso foi uma quantidade apreciável de gargalhadas. Apesar do respeito devido ao monarca, ninguém do seu séquito pôde conter-se. Isto fez-me reflectir em como é inútil tentar provocar a admiração de outros, quando esses nos ultrapassam em termos de comparação. E, no entanto, desde o meu regresso, pude ver com frequência o reflexo da minha conduta daquela altura nos meus semelhantes: um desprezível e insignificante malvado, sem o menor traço de linhagem nem de distinção, de inteligência ou de senso comum, atreve-se a presumir-se de importante e a considerar-se igual aos mais altos dignitários 'do reino.

Todos os dias proporcionava à corte algum motivo de regozijo. Glumdalclitch embora me adorasse tinha a suficiente perfidez de informar a rainha sempre que eu fazia qualquer disparate que ela julgava capaz de a divertir. Certa vez que se encontrava indisposta, a professora levou-a a passear durante uma hora, a umas trinta milhas da cidade. Apearam-se da carruagem nas proximidades de uma vereda, em pleno campo.





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