As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 15 / 339

Mas o pensamento do que tinha passado e de coisas piores que me pudessem fazer, e a palavra de honra dada, pois assim interpretavam a minha submissão, levaram a que rapidamente desaparecessem estas ideias. Além disso, sentia-me tolhido pelas leis da hospitalidade que esta gente manifestara de forma tão esplêndida e magnificente. Não podia deixar de admirar a intrepidez de tão diminutos mortais, que se atreviam a subir para o meu corpo e a passear por ele, enquanto uma das minhas mãos estava livre, e que nem sequer tremiam ante a presença de uma criatura tão prodigiosa como eu, para eles, deveria parecer. Passado um momento, e ao verificar que eu não pedia mais carne, apresentou-se diante de mim uma personagem de elevada condição e que representava Sua Majestade Imperial. Sua Excelência trepou pela parte inferior da minha perna direita e avançou até ao meu rosto, acompanhado por um séquito de dez pessoas e, tendo apresentado as suas credenciais com o selo real, aproximando-as da minha vista, falou durante cerca de dez minutos, sem dar mostras de enfado, mas com determinação. Apontava para a frente, quer dizer, para a direcção da capital que, como mais tarde averiguei, se encontrava a meia milha e para onde devia ser conduzido, conforme a decisão de Sua Majestade tomada em conselho.

Respondi com brevidade e fiz sinais com a mão livre apontando para a outra (passando-a sobre a cabeça de Sua Excelência para não o ferir nem ao seu séquito) e para a cabeça e o corpo, dando a entender que desejava ficar livre. Deu indicações de ter entendido, uma vez que sacudiu a cabeça com gestos de desaprovação e manteve a mão numa postura que indicava que devia ser transportado como prisioneiro. Mas também fez outros sinais para indicar-me que receberia suficiente carne e bebida e excelente tratamento.





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