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Capítulo 4: Capítulo II

Página 150
Vinte ou trinta desses tubos carregados com uma quantidade apropriada de pólvora e de bolas derrubariam em poucas horas as muralhas das cidades mais poderosas dos seus domínios ou destruiriam, até, toda a capital se esta ousasse alguma vez desacatar as suas ordens irrevogáveis. Ofereci humildemente este pequeno tributo a Sua Majestade como agradecimento das muitas manifestações de ajuda e protecção que recebera da sua real pessoa.

O rei ficou horrorizado com a minha descrição daqueles terríveis artefactos e com a minha proposta. Surpreendeu-o que um bichinho tão impotente e servil como eu, para utilizar as suas próprias palavras, pudesse albergar ideias tão desumanas e que o fizesse com tanta naturalidade, sem mostrar qualquer género de perturbação perante cenas tão sanguinolentas e desoladoras, consequência inevitável daquelas máquinas destrutivas, cujo autor deveria ter sido, em sua opinião, algum génio maldito, inimigo da espécie humana. Acrescentou ainda que, embora nada houvesse que mais lhe agradasse que as novas descobertas na área da arte ou da natureza, preferia perder metade do reino a ser cúmplice de semelhante segredo, ordenando-me também que nunca mais falasse no assunto se tinha apreço a minha vida.

É curioso o efeito de princípios tão limitados e de uma visão tão estreita como a de um príncipe com tantas qualidades dignas de veneração, afecto e estima, como a fortaleza, sabedoria e profunda cultura, dotado de um admirável talento para governar, quase adorado pelos seus súbditos, e que por respeitáveis, ainda que inúteis, escrúpulos, que desconhecemos na Europa, deixara fugir das mãos uma oportunidade que o teria tornado senhor das vidas, liberdades e riquezas das suas gentes.

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Capa do livro As Viagens de Gulliver
Páginas: 339
Página atual: 150

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta do Comandante Gulliver a seu primo Sympson 1
Prefácio do primeiro editor Richard Sympson 3
Capítulo I 8
Capítulo II 85
Capítulo III 170
Capítulo IV 249