Nenhuma lei daquele país deve exceder em palavras o número de letras do seu alfabeto, que tem apenas vinte e duas. Mas, na realidade, muito poucas atingem esse número. São redigidas em termos muito simples e claros, já que aquela gente não é suficientemente sagaz para atribuir diversas interpretações a uma palavra. E escrever comentários sobre alguma das leis é um crime capital. No que respeita à jurisprudência de causas cíveis ou penais, existem tão poucos precedentes nesse país que apenas se podem vangloriar de não serem peritos em nenhuma das áreas.
Conhecem a arte da impressão, como os chineses, desde tempos imemoriais. Mas as suas bibliotecas não são muito grandes, uma vez que a do rei, que é considerada a melhor, não ultrapassa os mil volumes, colocados num corredor de mil e duzentos pés de comprimento, ao qual tinha acesso para solicitar o empréstimo dos livros que quisesse. O.carpinteiro da rainha concebera para um dos aposentos de Glumdalclitch uma estrutura de madeira com vinte e cinco pés de altura, em forma de escada de mão fixa. Cada degrau tinha cinquenta pés de comprimento; na realidade, consistia num par de escadas móveis, cujo degrau inferior estava colocado a dez pés de distância da parede do aposento. O livro que pretendia ler era colocado aberto contra a parede. Subia até ao último degrau e, de frente para o livro, começava pela parte superior da página. Caminhava depois para a direita e para a esquerda, entre oito a dez passos consoante o comprimento das linhas e, à medida que precisava de prosseguir a leitura, ia descendo gradualmente, de degrau em degrau. Depois, voltava a subir e iniciava a página seguinte da mesma maneira, virando a página, coisa bastante fácil usando as duas mãos, uma vez que era grossa e rígida como um cartão.