As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 185 / 339

As esposas e filhas deploram o seu cativeiro na ilha voadora. Contudo, o lugar parece-me o mais agradável do mundo; mas ainda que vivam rodeadas do mais extraordinário luxo e possam fazer o que lhes apetece, anseiam por ver mundo e por desfrutar das diversões da capital, coisa que não podem fazer sem uma especial autorização régia; não se consegue obter esta com facilidade porque os dignitários comprovaram por experiência quão difícil se torna fazer regressar as mulheres de terra firme. Contaram-me que uma grande senhora da corte, com vários filhos e casada com o primeiro-ministro, o súbdito mais rico do reino e uma pessoa muito agradável, que a ama com loucura e vive no mais belo palácio da ilha flutuante, a pretexto de se sentir doente, desceu um dia a Lagado e ali permaneceu escondida vários meses, até que o rei emitiu uma ordem de busca e captura. Encontraram-na numa obscura taberna, coberta de farrapos: empenhara os vestidos para manter um lacaio velho e disforme que a golpeava diariamente, e de quem se separou com grande pesar. E embora o marido a tenha acolhido com a máxima cordialidade e sem proferir a menor censura, conseguiu, pouco depois, fugir para o continente com todas as jóias; juntou-se ao mesmo amante e, até à data, não foi ainda localizada.

O leitor terá talvez a impressão de que esta história é mais própria da Europa ou da Inglaterra que de um país remoto.





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