As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 211 / 339

CAPÍTULO VI

Continuação da descrição da academia. O autor sugere algumas melhorias que são favoravelmente acolhidas.

Foi-me muito compungente a visita ao instituto de estudos políticos.

Na minha opinião os professores estavam completamente lunáticos: a contemplação da loucura leva-me sempre à melancolia. Aqueles desgraçados apresentavam planos para persuadir os monarcas a escolherem os conselheiros pela sua prudência, capacidade e virtude; consideravam que os ministros deviam preocupar-se com o bem comum; que se devia compensar o mérito, os grandes talentos e os serviços eminentes; que se impõe indicar aos príncipes que devem colocar no mesmo nível o seu próprio interesse e o do seu povo; que se devem escolher as pessoas competentes para exercer os cargos; e ainda muitas outras quimeras irrealizáveis jamais concebidas por mente humana. Tudo isto me confirmou quão verdadeiro é o antigo adágio de que nada existe de extravagante e irracional que não encontre pensadores dispostos a defendê-lo.

Apesar de tudo, seria injusto com esta parte da academia se afirmasse que todos os seus membros eram visionários. Havia um doutor de enorme talento que parecia muito competente em assuntos políticos e administrativos. Este ilustre cientista utilizava o saber em descobrir remédios eficazes para todas as maleitas e corrupções dos diversos estratos da administração pública, quer por vícios ou males dos governantes, quer por excessos dos governados. Por exemplo: uma vez que todos os escritores e pensadores estão de acordo em afirmar que existe uma completa semelhança entre o corpo humano e o político, será necessário demonstrar que a saúde de ambos deve ser tratada e curada das doenças com o mesmo tipo de receitas?





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