Aceita-se que os senados e as altas assembleias sejam agitados por humores platónicos efervescentes e diversamente perniciosos; que sofram de inúmeras dores de cabeça e, ainda mais, de coração; que estejam sujeitos a fortes convulsões, a graves contracções dos nervos e tremores de mão, especialmente da direita; que não desconheçam a prostração, o flato, o delíquio e o delírio, os tumores escrofulosos cheios de substância fétida, purulenta, os arrotos amargos e espumosos, apetite voraz seguido de pesadas digestões, além de muitas outras moléstias que seria ocioso enumerar. Este douto indivíduo propunha, então, que uma equipa médica devia estar presente quando o Senado se reunia nas sessões dos três primeiros dias, e que no termo dos debates diários devia ser tomado o pulso de todos os senadores; depois de uma consulta médica sobre a natureza das diferentes enfermidades e métodos de tratamento, essa equipa deveria regressar ao Senado no quarto dia, acompanhada por farmacêuticos que levassem os remédios adequados; e antes que os parlamentares ocupassem os seus lugares, distribuiriam os calmantes, aperitivos, abstergentes, corrosivos, adstringentes, paliativos, laxantes, purgantes, analgésicos, ictéricos, anti-histéricos ou acústicos, conforme os diagnósticos; e, de acordo com o resultado obtido, repetir-se-iam, seriam alterados ou suprimir-se-iam na sessão seguinte.
Este projecto não afectaria muito o erário público e, na minha modesta opinião, poderia ser utilíssimo na gestão dos assuntos, naquelas nações onde o Senado desempenha responsabilidades legislativas; obter-se-ia unanimidade, os debates seriam mais breves, abrir-se-iam bocas que ora permanecem fechadas, enquanto as outras que estão sempre abertas, seguramente em maior número, fechar-se-iam; a petulância dos jovens suavizar-se-ia e a suficiência dos velhos não chegaria à teimosia; estimular-se-iam os estúpidos e moderar-se-iam os impertinentes.
