Capítulo 3: Capítulo I
Página 22
Já não era propriamente um jovem, pois tinha vinte e oito anos e oito meses. Levava já sete anos de reinado, em geral, vitorioso. Para observá-lo melhor, deitei-me de lado de forma a que nos pudéssemos olhar de frente, estando ele de pé a menos de três jardas de distância. É, no entanto, difícil enganar-me na minha descrição pois tive-o depois na minha mão, por diversas ocasiões. Trajava com grande simplicidade, num estilo meio-asiático, meio-europeu, embora trouxesse um leve capacete de ouro, adornado com jóias e rematado por uma pluma. Para defender-se empunhava uma espada desembainhada para o caso de eu querer desatar-me. Aquela media três polegadas; o punho e a bainha eram de ouro com incrustações de diamante. A sua voz era penetrante mas clara, articulada e perfeitamente audível, ainda que estivesse de pé. Todas as damas e cortesãs apresentavam vestidos tão amplos que o lugar mais parecia um encaixe bordado a ouro e prata desdobrado pelo chão. Sua Majestade Imperial falava-me com frequência e eu, por meu lado, respondia-lhe, ainda que nenhum dos dois entendesse palavra. Estavam presentes vários sacerdotes e letrados, isto é o que deduzo pela sua forma de vestir com ordens para falar comigo. Eu procurava dirigir-me a eles fazendo uso dos meus conhecimentos linguísticos em alto e baixo flamengo, latim, francês, espanhol, italiano e em língua franca. Mas tudo foi inútil. Transcorridas duas horas, a corte retirou-se e deixaram-me sob a custódia de um importante destacamento militar para evitar que a populaça me molestasse e acossasse. As pessoas tinham muita vontade de se aproximar de mim, ainda que com certo receio, e algumas tiveram mesmo a ousadia de atacar-me com flechas quando descansava à porta de casa, incidente que quase me fez perder o olho esquerdo.
|
|
 |
Páginas: 339
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|