A mesma coisa se pode dizer do resto do corpo que apenas se distinguia, conforme já indiquei, pela pelagem espessa e pela cor.
O grande problema que parecia preocupar estes cavalos estava no facto de que o resto do corpo era completamente distinto do dos yahoos. Devia esta vantagem ao meu vestuário, que não sabiam o que era. O rocim alazão ofereceu-me uma raiz que segurava nos cascos tal como era seu costume, de que terei oportunidade de referir-me mais adiante. Segurei-a na mão e, depois de cheirá-la, devolvi-a com amabilidade. Tirou da manjedoura dos yahoos um pedaço de carne de jumento, mas exalava dele um cheiro tão insuportável, que o afastei com náuseas; ele atirou-o ao yahoo, que o engoliu com avidez. Ofereceu-me então um molho de feno e um cesto com aveia, mas sacudi a cabeça para que compreendesse que não comeria nada do que me oferecera. Depressa percebi que, se não encontrasse gente da minha espécie, morreria de fome. No que diz respeito àqueles asquerosos yahoos apesar de existir pouca gente com tanto amor à humanidade como eu tenho de admitir, contudo, que nunca encontrei seres vivos mais disformes, sob qualquer ponto de vista, em todo o reino animal. E quanto mais os contemplava, durante a minha estadia naquele país, mais os detestava. O dono da casa deduziu estes meus pensamentos pela minha forma de reagir e, acto contínuo, mandou levar o yahoo para a pocilga. Pôs então o casco na boca, coisa que muito me surpreendeu, embora o tivesse feito com facilidade e com movimentos extremamente naturais e, com outros gestos e sinais, perguntou-me o que queria comer. Fui incapaz de responder-lhe de modo compreensível e, mesmo que isso tivesse sido possível, não via como teria podido encontrar alimento para mim.
