As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 262 / 339

Não posso, de resto, deixar de registar que nunca sofri qualquer indisposição durante a minha estadia nesta ilha. É verdade que às vezes caçava um coelho ou um pássaro com laços feitos com pêlo de yahoo e que, amiúde, recolhia ervas comestíveis que fervia ou comia como salada, acompanhada com pão. De quando em quando, para variar a ementa, fazia um pouco de manteiga ou bebia o soro. A princípio sentia muito a falta do sal, mas depressa me habituei a passar sem ele; e estou persuadido de que o uso frequente do sal entre nós é um luxo, servindo tão-só de estimulante da sede, salvo quando se trata de conservar a carne no decurso de grandes viagens ou por se viver em lugares afastados dos grandes mercados. Porque o homem é o único animal que gosta de sal. Quanto a mim respeita, quando abandonei este país, durante muito tempo não consegui suportar o sabor do sal nos alimentos que ingeria.

Não me alongarei mais sobre o meu regime alimentar. Há muitos viajantes que enchem as páginas dos seus livros com este tema, como se os leitores tivessem interesse em saber se nos alimentamos bem ou mal. No entanto, foi preciso mencionar o tema para que ninguém julgasse que era impossível encontrar sustento durante os três anos que passei entre os habitantes deste país.

Ao entardecer, o cavalo amo deu ordens para que me preparassem um alojamento a umas seis jardas da casa, em sítio afastado do estábulo dos yahoos. Deitei-me sobre a palha e, cobrindo-me com as roupas, adormeci profundamente. Em breve, porém, tive melhores acomodações, como o leitor virá a saber, quando contar mais pormenorizadamente o meu' estilo de vida.





Os capítulos deste livro