As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 272 / 339

O meu amo, que já manifestara por várias vezes uma franca indignação, perguntava como ousávamos cavalgar o dorso de um houyhnhnm, porque estava certo de que o mais débil dos seus lacaios seria capaz de derrubar o yahoo mais vigoroso e esmagá-lo sob o seu peso. Expliquei-lhe que os nossos cavalos eram treinados, a partir dos três ou quatro anos, para o trabalho que se esperava deles; se algum se mostrava absolutamente indomável, era destinado a animal de tiro; que, quando eram jovens, se lhes batia com um pau sempre que não obedeciam; que aos machos empregados como montadas ou para tiro procedia-se à sua castração, em conhecia para que serviam as quatro fendas e interstícios das minhas patas traseiras que, de resto, eram demasiado débeis para enfrentar as pedras duras e cortantes sem uma protecção de pele de outro animal; acrescia ainda que todo o meu corpo precisava de proteger-se do frio e do calor e que, todos os dias, me via forçado a vestir e a despir uma protecção com grande e enfadonho esforço. Finalmente observara que todos os animais do seu país tinham um temor instintivo dos yahoos: os mais débeis evitavam-nos, os mais fortes faziam-nos fugir; não compreendia, assim, como poderíamos domesticá-los e colocá-los a nosso serviço. No entanto, dizia não querer comentar mais este tema, pois desejava, sobretudo, conhecer a minha história pessoal: o meu país de origem, as minhas ocupações profissionais e o que me acontecera antes de chegar aqui.

Assegurei-lhe que ansiava, de todo o coração, satisfazê-lo sobre todos estes pontos; mas duvidava muito ser exequível explicar diversos assuntos sobre os quais Sua Excelência não tinha a menor noção, porque não via no seu país nada que servisse de termo de comparação.





Os capítulos deste livro