As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 28 / 339

Em dois bolsos não pudemos entrar; a estes chamava-os bolsos secretos; consistiam em dois cortes sobre o comprido na metade superior do protector, mas apertados e quase juntos pela pressão do abdómen. Do bolso direito estava pendurada uma grande corrente de prata com uma espécie de máquina maravilhosa na parte inferior. Indicámos-lhe que mostrasse o que pendia da corrente, que parecia ser uma esfera, meio-prateada, meio-transparente; nesta parte descobrimos uns desenhos em círculo e pensámos que podíamos tocá-los, mas disso fomos impedidos pela camada transparente. Encostámos os ouvidos à máquina que emitia um ruído contínuo como o de uma azenha; e pareceu-nos que se tratava de algum animal desconhecido ou do seu Deus. Inclinámo-nos mais para a segunda hipótese, pois que nos assegurou (ou pelo menos assim o entendemos, tendo em conta o seu pouco domínio do idioma) que raramente fazia algo sem primeiro olhar para ele. Considerava-o um oráculo e disse-nos que marcava o tempo para cada acontecimento da sua vida. Do bolso esquerdo retirou uma rede quase tão grande com uma de pesca, embora se abrisse e fechasse como uma bolsa, utilizada para a mesma finalidade. Lá dentro encontrámos vários pedaços grandes de metal amarelo que, a ser ouro, devem valer uma fortuna.

Depois de termos inspeccionado com minúcia todos os bolsos, segundo as ordens de Sua Majestade, observámos um cinturão fabricado com a pele de um animal enorme que rodeava a barriga e de onde pendia uma espada tão comprida como cinco homens; e na parte direita estava pendurada uma bolsa dividida em duas partes. Em cada compartimento encontravam-se vários pedaços arredondados de metal muito pesado e do tamanho das nossas cabeças, pelo que foi precisa muita força para levantá-los; no outro compartimento havia um montículo de grânulos negros, com um peso diminuto, uma vez que podíamos segurar sem esforço até cinquenta desses grãos.





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