As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 301 / 339

Os yahoos têm, desde a infância, uma prodigiosa agilidade. Apesar disso, uma vez capturei um jovem macho de três anos e procurei tranquilizá-lo prodigalizando-lhe todas as manifestações de ternura; mas o pequeno bruto começou a guinchar, arranhar e morder com tal violência que me vi obrigado a soltá-lo. E procedi bem porque já uma manada de adultos acorrera perante tanto alvoroço. Mas ao comprovar que a cria estava a salvo (fugira a toda a velocidade) e que o alazão se encontrava ao pé de mim, não ousaram aproximar-se. Notei que a carne daquele jovem animal desprendia um cheiro a ranço; aquele fedor fazia lembrar o da doninha ou o da raposa, embora muito mais repelente. Esquecia outro pormenor (e talvez o leitor me perdoasse se a ele me não referisse). Enquanto retinha este odioso animalejo, conspurcou as minhas roupas com os seus asquerosos excrementos, uma substância líquida amarelada. Por sorte havia um riacho próximo, e ali me lavei o melhor que pude, ainda que não me atrevesse a surgir ante o meu amo enquanto o cheiro pestilento não se tivesse desvanecido.

Pelo que pude observar, os yahoos eram animais que detestavam aprender: arrastar ou transportar cargas marcava o limite das suas capacidades. Creio, no entanto, que esta inépcia provém principalmente de uma predisposição perversa e irrequieta: são astutos, malignos, traiçoeiros e vingativos. São fortes e resistentes, se bem que cobardes por natureza, o que os torna insolentes, abjectos e cruéis. Comprovou-se que os ruivos de ambos os sexos são mais libidinosos e mal-intencionados que os restantes, muito embora os superem bastante em vigor e vitalidade.

Os houyhnhnms albergam os yahoos que usam para seu serviço directo em choças próximas de casa. Aos demais encaminham-nos para determinados campos.





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