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Capítulo 6: Capítulo IV

Página 303
Não podia repudiar por mais tempo que era um verdadeiro yahoo, dos pés à cabeça, uma vez que as fêmeas sentiam por mim uma atracção instintiva, como se fosse um da sua própria espécie. A cor do pêlo daquela irracional não era ruivo (o que teria justificado parcialmente aquela desordenada inclinação), mas negro como o carvão, e o seu aspecto não era tão repelente como o dos outros da sua espécie. Julgo que não ultrapassava os onze anos.

Depois de ter vivido três anos neste país suponho que o leitor estaria à espera de que eu proporcionasse como o fazem outros viajantes uma descrição dos hábitos e costumes dos habitantes o que, com efeito, constituía o meu principal tema de estudo.

Como estes nobres houyhnhnms são dotados de uma predisposição natural para a virtude e não têm a menor noção ou ideia do que é o mal numa criatura dotada de razão, a sua máxima principal é que se deve cultivá-la e deixar-se guiar inteiramente por ela. Para eles, a razão não constitui motivo de controvérsia como acontece entre nós (os homens podem defender de forma plausível duas vertentes de um problema), mas algo que se impõe com profunda convicção. Assim acontece necessariamente quando não está adulterada, obscurecida ou atenuada pelas paixões ou pelos interesses. Lembro-me que me custou muitíssimo fazer compreender ao meu amo o significado do termo opinião e o que era um ponto discutível, já que a razão nos ensinou a afirmar ou a negar apenas aquilo de que se está seguro, nada se podendo fazer quanto a tudo o que ultrapassa o nosso entendimento. Por tal motivo, controvérsias, altercações, disputas, assim como o empenho em defender opiniões falsas ou duvidosas, males desconhecidos entre os houyhnhnms. De igual modo, quando pretendia explicar-lhe os nossos diversos sistemas de filosofia natural, ria-se com o facto de uma criatura pretensamente racional se poder envaidecer fundamentando o seu conhecimento nas opiniões de outros e em áreas onde esse saber, embora fosse certo, não lhe servia para nada.

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pág. 303 (Capítulo 6)

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Capa do livro As Viagens de Gulliver
Páginas: 339
Página atual: 303

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta do Comandante Gulliver a seu primo Sympson 1
Prefácio do primeiro editor Richard Sympson 3
Capítulo I 8
Capítulo II 85
Capítulo III 170
Capítulo IV 249