Pedia desculpa pelo atraso porque, ao ter falecido o marido a meio da manhã, tivera de consultar os criados durante algum tempo sobre o lugar adequado para enterrá-lo. Verifiquei que se comportava na nossa casa com a mesma jovialidade que os restantes. Morreu três meses depois.
Vivem em geral até aos setenta ou setenta e cinco anos e, excepcionalmente, até aos oitenta. Umas semanas antes de morrer, as suas forças sofrem uma progressiva decadência, mas sem dor. Durante este período recebem numerosas visitas dos amigos, pois têm dificuldades em sair. No entanto, por um cálculo em que raramente falham, cerca de três dias antes de morrer, devolvem as visitas que os seus vizinhos mais próximos lhes fizeram, deslocando-se em práticos trenós arrastados por yahoos. Utilizam os referidos veículos não só nestas circunstâncias, mas também quando envelhecem, para viagens grandes ou quando surge uma lesão por acidente. Portanto, quando o agonizante houyhnhnm devolve essas visitas, despede-se solenemente dos amigos, como se partisse para um lugar remoto do país com a intenção de passar ali o resto dos seus dias.
Não sei se valerá a pena comentar que a língua dos houyhnhnms não possui palavras para exprimir a noção do mal, a não ser os termos que utilizam para as deformidades ou para os defeitos dos yahoos. Assim qualificam o disparate de um criado, o erro de uma criança, a pedra que lhes fere o casco, o longo período de tempo desagradável ou inadequado para a época, etc., com o epíteto de yahoo. Por exemplo: hlnm yaboo, whnaholm yahoõ, ynlhnmdwihlma yahoo e, para a casa mal construída, ynholmhnm. rohlnw yahoo.
Poderia, com muito gosto, alongar-me mais sobre os costumes e virtudes deste excelente povo; mas como tenho o propósito de publicar um volume consagrado exclusivamente a este tema, para ele remeto o leitor. Vou, entretanto, prosseguir o relato da minha própria e triste situação.