«Para mim, não há descanso por agora, enquanto o barco não chegar ao oceano Índico, e mesmo então, o descanso não há-de ser demais.»
Ele puxou uma baforada do charuto, meditativo, como se se tivesse tornado outro.
«Sim, é a isso que tudo vai dar», observou num tom repassado de melancolia. Parecia que uma pesada cortina se erguera, deixando a descoberto um capitão Giles renovado. Mas foi apenas um momento, somente o tempo que passou até ele acrescentar: «Há sempre muito pouco repouso nesta vida, seja lá para quem for. O melhor é não pensarmos muito nisso».
Levantámo-nos da mesa, deixámos o hotel e despedimo-nos na rua com um aperto de mão caloroso. Precisamente na altura em que, pela primeira vez desde que nos conhecíamos, eu começava a sentir-me interessado na sua pessoa.
A primeira coisa que vi quando voltei a bordo foi Ransome, na tolda, sossegadamente sentado em cima do seu saco de marinheiro, amarrado segundo todas as regras. Fiz-lhe sinal para que viesse ter comigo à câmara, onde me sentei a escrever uma carta de recomendação para ele a levar a certa pessoa minha conhecida, em terra.
Ao terminar a carta, empurrei-a na direcção dele, por cima da mesa. «Talvez isso lhe possa ser útil nalguma coisa: quando der baixa do hospital.»
Ele pegou na carta e pô-la na algibeira. Os seus olhos permaneciam afastados de mim... - fitando outra coisa, algures. O seu rosto estava marcado por uma espécie de impossibilidade ansiosa.
«E agora, como é que você se está a sentir?», perguntei. «Não me estou a sentir mal, senhor comandante», respondeu-me, conservando a sua atitude rígida. «Mas sinto certo receio de uma recaída...» O sorriso reflectido habitual voltou-lhe aos lábios por um momento. «Eu... - estou um bocado indisposto do coração, senhor comandante.
