- Foi você que o disse - repetiu.
- E que tem isso?
- Conheço muitos bons oficiais que se meteram em trabalhos com os seus capitães por terem dito muitíssimo menos - respondeu o segundo-piloto febrilmente. - Oh, não. Você não me apanha.
- Você parece terrivelmente preocupado em não se manifestar - disse Jukes, completamente irritado com tamanho absurdo. - Eu não tenho medo de dizer o que penso.
- Mas eu tenho. Não se ganha nada com isso. Não sou ninguém e sei-o muito bem.
O navio, depois de uma pausa de comparativa estabilidade, iniciou uma série de balanços, cada qual pior que o precedente, e durante algum tempo Jukes, preservando o seu equilíbrio, esteve demasiado ocupado para abrir a boca. Logo que a violenta oscilação abrandou um pouco, disse: «Isto já está a passar das marcas. Esteja ou não para vir qualquer coisa acho que devíamos pô-lo de proa para a vaga. O capitão foi agora mesmo deitar-se. Raios me partam se não lhe vou falar.»
Mas quando abriu a porta da casa de navegação encontrou o capitão a ler um livro. O capitão MacWhirr não estava deitado; estava de pé com uma das mãos firmemente agarrada à borda da estante e a outra conservando aberto diante da cara um grosso volume. O candeeiro contorcia-se na suspensão Cardan, os livros soltos tombavam de um lado para o outro da prateleira, o comprido barómetro oscilava em círculos irregulares, a mesa alterava a sua inclinação a cada instante. No meio de toda esta agitação, o capitão MacWhirr, continuando agarrado, mostrou os olhos por cima da aresta superior do livro e perguntou: «Que se passa».
- A ondulação está a piorar, sir.
- Nota-se aqui - murmurou o capitão MacWhirr. - Alguma novidade?
Jukes, interiormente desconcertado pela gravidade dos olhos que o fitavam por cima do livro, produziu uma careta embaraçada.