Jukes estava muito mais entorpecido do que supunha.
Mantinha-se firme - muito molhado, muito frio, com todos os membros hirtos; e numa momentânea alucinação de visões rápidas (diz-se que um homem que se afoga revê assim toda a sua vida) passaram-lhe pelo espírito todas as espécies de memórias sem a menor ligação com a sua situação presente. Lembrou-se, por exemplo, do pai,' um comerciante honesto, que aquando de uma desventurada crise nos seus negócios se meteu silenciosamente na cama, onde não tardou a morrer num estado de resignação. Jukes, naturalmente, não recordava estas circunstâncias, mas, embora alheado de tudo o mais, parecia-lhe ver distintamente a cara do pobre homem; de uma certa partida de cartas jogada quando ainda era um rapazinho, em Table Bay, a bordo de um navio que depois se perdeu com toda a tripulação; das grossas sobrancelhas do seu primeiro comandante; e sem qualquer emoção, como quando há muitos anos entrava com indiferença no quarto dela para a encontrar sentada a ler um livro, lembrou-se da mãe - também já morta -, dessa mulher corajosa, deixada numa situação precária, que se mostrara muito firme na educação do filho.
Isto não teria durado mais de um minuto, talvez nem tanto. Um braço pesado caíra-lhe em tomo dos ombros; a voz do capitão MacWhirr estava a gritar-lhe o nome aos ouvidos.
- Jukes! Jukes!
Detectou o tom de uma profunda preocupação.