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“Não creias, fero Bóreas, que te creio 
Que me tiveste nunca amor constante, 
Que brandura é de amor mais certo arreio, 
E não convém furor a firme amante. 
Se já não pões a tanta insânia freio, 
Não esperes de mi, daqui em diante, 
Que possa mais amar-te, mas temer-te; 
Que amor contigo em medo se converte.”
 
 
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Assim mesmo a formosa Galateia 
Dizia ao fero Noto, que bem sabe 
Que dias há que em vê-la se recreia, 
E bem crê que com ele tudo acabe. 
Não sabe o bravo tanto bem se o creia, 
Que o coração no peito lhe não cabe, 
De contente de ver que a dama o manda, 
Pouco cuida que faz, se logo abranda.