CAPÍTULO 8 Pouco mais me resta a dizer. Pudera mesmo deter-se aqui a minha confissão. Entretanto ainda algumas palavras juntarei.
Convém passar rapidamente sobre o processo. Ele nada apresentou que valha a pena referir. Pela minha parte, nem por sombras tentei desculpar-me do crime de que era acusado. Com o inverosímil, ninguém se justifica. Por isso me calei.
O apelo do meu advogado, brilhantíssimo. Deve ter dito que, no fundo, a verdadeira culpada do meu crime fora Marta, a qual desaparecera e que a polícia, segundo creio, procurou em vão.
No meu crime subentenderam-se causas passionais, seguramente. A minha atitude era romanesca de esfíngica. Assim pairou sobre tudo um vago ar de mistério. Daí, a benevolência do júri.
Entanto devo acentuar que sobre o meu julgamento conservo reminiscências muito indecisas. A minha vida ruíra toda no instante em que o revólver de Ricardo tombara aos meus pés. Em face a tão fantástico segredo, eu abismara-me. Que me fazia pois o que volteava à superfície?… Hoje, a prisão surgia-me como um descanso, um termo…
Por isso, as longas horas fastidiosas passadas no tribunal, eu só as vi em bruma - como sobrepostas, a desenrolarem-se num cenário que não fosse precisamente aquele em que tais horas se deveriam consumar…
Os meus "amigos" como sempre acontece, abstiveram-se: nem Luís de Monforte - que tanta vez me protestara a sua amizade - nem Narciso de Amaral, em cujo afeto eu também crera. Nenhum deles, numa palavra, me veio visitar durante o decorrer do meu processo, animar-me. Que a mim, de resto, coisa alguma me animaria.
Porém, no meu advogado de defesa fui achar um verdadeiro amigo. Esqueceu-me o seu nome: apenas me recordo de que era ainda novo e de que a sua fisionomia apresentava uma semelhança notável com a de Luís de Monforte.