CAPÍTULO 7 Outubro de novecentos principiara.
Uma tarde, no Bulevar des Capucines, alguém de súbito me gritou, batendo-me no ombro:
- Ora até que enfim! Andava exatamente à sua procura…
Era Santa-Cruz de Vilalva, o grande empresário.
Tomou-me por um braço, fez-me à viva força sentar junto dele no terraço do La Paix, e pôs-se a barafustar-me o espanto que a minha falta de notícias lhe causara, tanto mais que, poucos dias antes de desaparecer, eu lhe falara da minha nova peça. Disse-me que em Lisboa muita gente perguntava por mim, que apenas vagamente se sabia que eu estava em Paris por alguns portugueses que tinham vindo à Exposição. Em suma: "Que demónio era isso, homem? neurasténico pelo último correio?…"
Como sucedia sempre quando alguém me fazia perguntas sobre a minha forma de viver, fiquei todo perturbado - corei e titubeei quaisquer razões.
O grande empresário atalhou, exclamando-me:
- Bom. Mas antes de mais nada, vamos ao importante: Dê-me a sua peça.
Que não a concluíra ainda, que não me satisfazia…
E ele:
- Espero-o esta noite no meu hotel… ali, no Scribe…
Traga-me a obra. Quero ouvi-la hoje… Que título?
- A Chama.
- Ótimo. Até logo… Primeira em Abril. Última récita de assinatura. Preciso fechar a minha estação com chave de ouro…
* * *
Fora-me muito desagradável o encontro que viera pôr termo ao meu isolamento de há seis meses. Porém, ao mesmo tempo, no fundo, a verdade é que eu não o lastimava. Sempre a literatura…
Desde que chegara a Paris, não escrevera uma linha nem sequer já me lembrava de que era um escritor… E agora, de súbito, vinham-me recordá-lo - evidenciando o apreço em que se tinha o meu nome; e precisamente alguém que eu sabia tão pouco lisonjeiro, tão brusco, tão homem-de-negócios…
* * *
À noite, como se combinara, li o meu drama.