Oh, quem tivera, formosa Dulcinéia, Por mais comodidade e mais repouso, A Miraflores posto em el Toboso, E trocara seus Londres com tua aldeia!
Oh, quem de teus desejos e libré Alma e corpo adornara e do famoso Cavaleiro que fizeste venturoso Mirara alguma desigual peleja!
Oh, quem tão castamente se escapara Do Senhor Amadis como fizeste Do comedido fidalgo Dom Quixote!
Que, assim, invejada fora e não invejara E fora alegre o tempo que foi triste, Gozara os prazeres sem limite.
GANDALIM, ESCUDEIRO DE AMADIS DE GAULA, A SANCHO PANÇA, ESCUDEIRO DE D. QUIXOTE
SONETO
Salve, varão famoso, a quem Fortuna Quando no trato escuderil te pôs, Tão pacata e brandamente o dispôs, Que o passaste sem desgraça alguma.
Já a enxada ou a foice pouco repugna Ao andante exercício; já está em uso A lhaneza escudeira, com que acuso Ao soberbo que intenta pisar a lua.
Invejo teu jumento e teu nome, E a teus alforjes igualmente invejo, Que mostraram tua pacata providência.
Salve outra vez, ó Sancho! tão bom homem, Que a ti só nosso espanhol Ovídio Com um cascudo te faz reverência.
DO DONOSO, POETA ENTREVERADO, A SANCHO PANÇA E ROCINANTE A SANCHO PANÇA
Sou Sancho Pança, escudei[ro]
Do manchego Dom Quixo[te],
Pus pés em polvoro[sa]
Para viver ao discre[to];
Que o tácito Vila-Dio[go),
Toda sua razão de esta[do]
Cifrou numa retira[da],
Segundo sente Celesti[na],
Livro, ao meu ver, divi[no],
Se encobrisse mais o huma[no].
A ROCINANTE
Sou Rocinante, o famo[so],
Bisneto do grande Babie[ca].
Por pecados de fraque[za]
Fui a poder dum Dom Quixo[te];
Parelhas corri ao frou[xo];
Mas por unha de cava[lo]
Não me escapou ceva[da];
Que isto tirei a Lazari[lho]
Quando, para furtar o vi[nho]
Ao cego, lhe dei a pa[lha].