Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 36: CAPÍTULO XXXV - Em que se trata da grande e descomunal batalha que teve D. Quixote com uns odres de vinho tinto, e se dá fim à novela do curioso impertinente.

Página 393

Enfim, tanto fizeram, o barbeiro, Cardênio e o cura, que, a poder de trabalho, deram com D. Quixote na cama, ficando a dormir com mostras de grandíssimo cansaço.

Deixando-o pois a dormir, saíram para o portal da taverna com o fim de consolar a Sancho Pança de não haver encontrado a cabeça do gigante, mas inda tiveram mais que trabalhar em abater a ira do vendeiro, o qual estava desesperado por causa de assim morrerem os seus odres, vítimas de uma morte repentina; e a vendeira, gritando a bom gritar, dizia:

— Em mau ponto, em minguada hora, entrou em minha casa este cavaleiro andante, a quem meus olhos tão bom fora que nunca houveram visto, pois que tão caro ele me fica: da vez passada foi-se embora com o custo da ceia de uma noite, e da cama, palha e cevada, para ele e para o seu escudeiro, e para o rocim e o jumento, dizendo que era cavaleiro aventureiro (que má ventura lhe dê Deus a ele e a quantos aventureiros haja neste mundo) e que por isso não estava obrigado a pagar coisa alguma, porque assim o achava escrito nos aranzéis da cavalaria andantesca: agora por seu respeito veio um outro senhor e me levou a minha cauda, e, quando ma restituiu, entregou-ma com mais de dois quartos de real de prejuízo, toda pelada, de modo que não pode servir para o que meu marido a queria; e por fim e remate de tudo isto rompe-me os meus odres, e entorna-lhes o vinho todo pelo chão, que assim lhe veja eu derramado quanto sangue tem nas veias; e não se pense que pelos ossos de meu pai e honra de minha mãe não me hão-de pagar um quarto sobre outro, ou eu me não chamaria pelo nome que sou chamada, nem seria filha de quem sou.

Estas e outras razões dizia a taverneira com grande cólera, e era ajudada pela sua boa criada. A filha calava-se, e somente de quando em quando se sorria.

<< Página Anterior

pág. 393 (Capítulo 36)

Página Seguinte >>

Capa do livro Dom Quixote de La Mancha – Livro Primeiro
Páginas: 590
Página atual: 393

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRÓLOGO 1
AO LIVRO DE D. QUIXOTE DE LA MANCHA 10
PRIMEIRA PARTE / LIVRO PRIMEIRO / CAPÍTULO I - Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo D. Quixote de La Mancha. 15
CAPÍTULO II - Que trata da primeira saída que de sua terra fez o engenhoso D. Quixote. 21
CAPÍTULO III - No qual se conta a graciosa maneira que teve D. Quixote em armar-se cavaleiro. 28
CAPÍTULO IV - Do que sucedeu ao nosso cavaleiro saindo da venda. 36
CAPÍTULO V - Em que se prossegue a narrativa da desgraça do nosso cavaleiro. 44
CAPÍTULO VI - Da curiosa e grande escolha que o padre cura e o barbeiro fizeram na livraria do nosso engenhoso fidalgo. 49
CAPÍTULO VII - Da segunda saída do nosso bom cavaleiro D. Quixote de la Mancha. 57
CAPÍTULO VIII - Do bom sucesso que teve o valoroso D. Quixote na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento, com outros sucessos dignos de feliz recordação. 63
LIVRO SEGUNDO / CAPÍTULO IX - Em que se conclui a estupenda batalha que o galhardo biscaínho e o valente manchego tiveram. 73
CAPÍTULO X - Graciosas práticas entre D. Quixote e seu escudeiro Sancho Pança. 79
CAPÍTULO XI - Do que a D. Quixote sucedeu com uns cabreiros. 85
CAPÍTULO XII - Do que referiu um cabreiro aos que estavam com D. Quixote. 92
CAPÍTULO XIII - Em que se dá fim ao caso da pastora Marcela, com outros sucessos. 100
CAPÍTULO XIV - Onde se põem os versos desesperados do pastor defunto, com outros imprevistos sucessos. 111
LIVRO TERCEIRO / CAPÍTULO XV - Em que se conta a desgraçada aventura, que a D. Quixote ocorreu com uns desalmados iangueses. 121
CAPÍTULO XVI - Do que sucedeu ao engenhoso fidalgo na venda que ele imaginava ser castelo. 130
CAPÍTULO XVII - Em que se prosseguem os inumeráveis trabalhos, que o bravo D. Quixote e seu escudeiro Sancho Pança passaram na venda, que o fidalgo por seu mal cuidara ser castelo. 139
CAPÍTULO XVIII - Onde se contam as razões que passou Sancho Pança com seu senhor D. Quixote com outras aventuras dignas de ser contadas. 149
CAPÍTULO XIX - Das discretas razões que Sancho passava com o amo e da aventura que lhes sucedeu com um defunto, e outros acontecimentos famosos. 161
CAPÍTULO XX - Da nunca vista nem ouvida aventura que jamais cavaleiro algum famoso no mundo acabou, e a concluiu, quase sem perigo, D. Quixote de la Mancha. 170
CAPÍTULO XXI - Que trata da alta aventura e preciosa ganância do elmo de Mambrino, com outras coisas sucedidas ao nosso invencível cavaleiro. 186
CAPÍTULO XXII - Da liberdade que D. Quixote deu a muitos desafortunados, que iam levados contra sua vontade onde eles por si não quereriam ir. 200
CAPÍTULO XXIII - Do que ao famoso D. Quixote sucedeu em Serra Morena, que foi uma das mais raras aventuras coutadas nesta verdadeira história. 213
CAPÍTULO XXIV - Em que se prossegue a aventura da Serra Morena. 227
CAPÍTULO XXV - Que trata das estranhas coisas que em Serra Morena sucederam ao valente cavaleiro da Mancha, e da imitação que fez da penitência de Beltenebrós. 238
CAPÍTULO XXVII - De como se houveram o cura e o barbeiro, com outras coisas dignas de ser contadas nesta grande história. 266
LIVRO QUARTO / CAPÍTULO XXVIII - Que trata da nova e agradável aventura sucedida na mesma serra ao cura e ao barbeiro. 285
CAPÍTULO XXIX - Que trata do gracioso artifício e ordem que se teve em tirar o nosso amorado cavaleiro da muito áspera penitência em que se havia posto. 302
CAPÍTULO XXX - Que trata da discrição da formosa Dorotéia, com outras coisas de muito sabor e passatempo. 316
CAPÍTULO XXXI - Das saborosas conversações que houve entre D. Quixote e o seu escudeiro com outros sucessos. 328
CAPÍTULO XXXII - Que trata do que na venda sucedeu a todo o rancho de D. Quixote. 339
CAPÍTULO XXXIII - Onde se conta a novela do curioso impertinente. 347
CAPÍTULO XXXIV - Em que se prossegue a novela do curioso impertinente. 369
CAPÍTULO XXXV - Em que se trata da grande e descomunal batalha que teve D. Quixote com uns odres de vinho tinto, e se dá fim à novela do curioso impertinente. 390
CAPÍTULO XXXVI - Que trata de outros sucessos raros que na taverna sucederam. 401
CAPÍTULO XXXVII - No qual se prossegue com a história da famosa infanta de Micomicão, e de outras graciosas aventuras. 415
CAPÍTULO XXXVIII - Em que se continua o discurso que fez D. Quixote sobre as armas e as letras. 429
CAPÍTULO XXXIX - Onde o cativo conta a sua vida e sucessos dela. 435
CAPÍTULO XL - No qual se conta a história do cativo. 446
CAPÍTULO XLI - No qual o cativo continua a sua história. 461
CAPÍTULO XLII - Em que se trata do mais que sucedeu na estalagem, e de outras coisas dignas de serem conhecidas. 485
CAPÍTULO XLIII - Onde se conta a agradável história do moço das mulas com outros estranhos sucessos acontecidos na venda. 494
CAPÍTULO XLIV - Onde se prosseguem os inauditos sucessos da venda. 505
CAPÍTULO XLV - Onde se acaba de averiguar a dúvida do elmo de Mambrino e da albarba, e de outras aventuras sucedidas com toda a verdade. 515
CAPÍTULO XLVI - Da notável aventura dos quadrilheiros, e da grande ferocidade do nosso bom cavaleiro D. Quixote. 524
CAPÍTULO XLVII - Do modo estranho como foi encantado D. Quixote de la Mancha, com outros sucessos. 534
CAPÍTULO XLVIII -Onde prossegue o cônego no assunto dos livros de cavalaria, com outras coisas dignas do seu engenho. 545
CAPÍTULO XLIX - Onde se trata do discreto colóquio que Sancho Pança teve com seu amo D. Quixote. 554
CAPÍTULO L - Das discretas altercações que D. Quixote e o cônego tiveram, com outros sucessos. 563
CAPÍTULO LI - Que trata do que contou o cabreiro a todos os que levavam D. Quixote. 571
CAPÍTULO LII - Da pendência que teve D. Quixote com o cabreiro, com a rara aventura dos penitentes, a que felizmente deu fim à custa do seu suor. 578