os quais não precisam senão de possuir forças materiais; ou como se isto, a que chamamos armas, nós os que fazemos profissão delas, não precisasse de muitos atos de fortaleza, os quais carecem na sua execução, para que esta seja perfeita, de muita inteligência em quem os executa: ou como se o guerreiro, que tem a seu cargo o comando dum exército, ou a defesa duma povoação sitiada, não tivesse necessidade de trabalhar igualmente com o espírito e com o corpo: se não, veja-se se é possível conseguir por meio das forças corporais e materiais o penetrar as intenções do inimigo, seus projetos e seus estratagemas, e prevenir as dificuldades e os danos que ele pode suscitar e opor, tudo isto coisas tocantes privativamente ao entendimento, e nas quais o corpo nenhuma parte pode ter. Sendo pois ponto verificado que as armas requerem tanta força de espírito como as letras, examinemos agora qual dos dois espíritos é o que trabalha mais, se o do letrado, se o do guerreiro.
Para isto se conhecer bem, deve examinar-se com atenção o destino a que cada um dos dois se encaminha, porque em mais alto valor se há-de apreciar a intenção daquele que tem por objeto alcançar um fim mais glorioso e nobre. O fim a que as letras se dirigem (e não falo agora das divinas, que aspiram somente a encaminhar as almas para o céu, fim este tão sem fim, que nenhum outro se lhe pode igualar), quero dizer, as letras humanas, é estabelecer com clareza a justiça distributiva, e dar a cada um o que é seu, e o procurar e fazer que as boas leis se guardem e se cumpram: fim por certo este generoso, e digno de grande louvor; porém não de tanto como merece aquele a que as armas atende, o qual consiste em segurar a paz, que é o maior bem que os homens podem nesta vida