Capítulo 40: CAPÍTULO XXXIX - Onde o cativo conta a sua vida e sucessos dela.
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deixar de perder-se uma força que não é socorrida, sobretudo quando é cercada por muitos e tenazes inimigos, e estes de mais a mais estão na sua própria terra? Porém pareceu a muitas pessoas, e dessas fui eu uma, que tal perda foi uma graça especial concedida pelo céu à Espanha, permitindo que afinal de tudo ficasse para sempre destruída e arrasada aquela guarida de malfeitores, a qual sem proveito algum custava à mesma Espanha grande quantidade de dinheiro para conservar aquela posição de que não recebia proveito e apenas podia servir para conservar a memória do invictíssimo Carlos V, que fora quem noutro tempo a ganhara; como se fora mister, para tornar esta memória eterna, que aquelas pedras a sustentassem, a ela que jamais se varrerá da recordação dos espanhóis. Perdeu-se também o Forte; mas os turcos somente conseguiram ganhá-lo palmo a palmo, porque os soldados, que o defendiam, pelejaram tão forte e valorosamente, que os turcos perderam ali mais de vinte e cinco mil homens em vinte e dois assaltos que se viram obrigados a fazer. De trezentos defensores, que escaparam com vida, nem um só deixou de ficar ferido: sinal claro e evidente do seu esforço, e do bem que souberam defender-se e cumprir o dever de valentes soldados. Rendeu-se por capitulação um pequeno forte que estava no meio do lago, e de que era capitão D. João Zanoguera, cavaleiro valenciano e famoso guerreiro. Ficou cativo D. Pedro Puerto-Carrero, general da Goleta, o qual fez todo o possível para defender a praça, e de tal modo sentiu o havê-la perdido, que no caminho de Constantinopla faleceu de puro pesar, não chegando vivo àquela capital. Também ficou prisioneiro o general do Forte que se chamava Gálvio Cerbelhon, cavaleiro milanês, grande engenheiro e valentíssimo soldado.
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