Capítulo 40: CAPÍTULO XXXIX - Onde o cativo conta a sua vida e sucessos dela.
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Morreram nestas duas praças muitas pessoas de conta, e foi uma delas Pagão Dória, cavaleiro do hábito de S. João, homem por extremo generoso, como o mostrou pela suma liberalidade de que usou com seu irmão o famoso João André Dória; e o que mais lastimou por ocasião da sua morte foi que esta se executasse pelas mãos de uns árabes (nos quais se fiou quando viu já o Forte perdido) que se ofereceram para guiá-lo, disfarçado com vestidos de mouro, até Tabarca (que é um pequeno porto possuído pelos genoveses naquela ribeira para o fim de exercitarem a pesca do coral); os tais árabes lhe cortaram a cabeça e a trouxeram ao general da armada turca, o qual cumpriu para com eles o antigo rifão castelhano, que diz: Ainda que a traição agrada, o traidor sempre se aborrece; e, segundo se conta, mandou o general enforcar os que lhe trouxeram a cabeça por não haverem trazido vivo o dono dela. Entre os cristãos, que no Forte se perderam, foi um deles D. Pedro de Aguilar, natural não sei de que terra da Andaluzia, o qual servira no Forte o posto de alferes, e era soldado de muita valia e de raro entendimento, tendo especial graça nas coisas de poesia: digo isto porque a sua sorte o trouxe à minha galera, ao meu banco e a ser escravo, assim como eu, do mesmo senhor; e antes que nós saíssemos daquele porto compôs este cavaleiro dois sonetos, um à Goleta, e outro ao Forte: estes sonetos os conservo de memória e hei-de repeti-los por me parecer que serão eles ocasião de prazer e não de enjôo. Quando o cativo nomeou a D. Pedro de Aguilar, D. Fernando olhou para os seus três companheiros, que todos se sorriram; um deles disse então ao cativo: “Antes que Vossa Mercê passe adiante, pedia-lhe eu a graça de dizer-me se porventura sabe alguma coisa a respeito do destino que teve ou do que foi feito desse D.
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